Maré baixa

Cometi erros dolorosos,
Que foram como chupar uma moeda suja,
Por dias.
O gosto da impureza na minha língua,
Era o gosto das palavras pesadas,
Desistidas de tentar em vão.
Não era a casa, a vida, os pedaços de pão
Fui eu. Nós. Mais eu.

Morri e matei,
Em nome da moeda.
Contaminou todo o processo digestivo
Do amor no meu intestino
E na síntese errada
Não absorvi os nutrientes
Foi como engolir e expelir
Balas de chumbo recém disparadas.

Fui alvejada por dentro
Cheguei transbordando
Fui vazando, esvaziando
Quando vi
Tava assim, furada, vazia.

Eu estava cega,
E tiroteio não foi bom comigo.
Mesmo com a mão na arma,
Não consegui eliminar os absurdos
E atirei em minha própria alma
Até não me restar uma gota de vida.

Fui covarde
Sou covarde
Foi covarde, tudo isso.

Morta por dentro
Magra por fora
De imensidão
Morri afogada.

Tudo é borboleta

Você tinha asas
Que combinavam com a minha sacada
Mas você foi me sugando
E fiquei com as raízes secas
Quando vi
Não me vi mais
Me escondia
Sem amadurecimento
Estagnada junto ao teu verde
Agudo infinito da alma
Morreu

O que foi bonito
Era meu,
O resto foi você quem me deu.

Já foi

.Vai doer te ver partir
Você subdividiu
Diminuiu os acumulados cansaços
Todo amor tem um artifício
E o nosso foi como fogo de artifício
Comparado ao universo do sentimento amor
Vai diminuir com o tempo
Seu nome ecoará em minha alma com o passar os minutos
Demarcada estou em áreas do meu corpo
Que por mim nunca exploradas
Da minha mente
Mas se foi
Já foi
Passou
Passou porque era pra passar
Já que você não conseguiu passar os dias
A me amar.

Ir Embora Assim

Logo eu que vim de uma cidade do interior,
Que fui criada no interior do interior de um coração,
Suportei o céu azul acinzentado da cidade monstro.
As ruas pretas com curvas lindas,
Os prédios próximos,
As pesssoas desconexas por tantas conexões,
Os amigos graduais,
que se formam em suas formas e partem
Ao trabalho, ao meio, em 3.
Você, fica mesmo assim, meio sozinho
Rodiado por milhões.
Para a cidade grande, os grandes erros
Maiores choros, cansaços diários matinais
Enjoos, gravidez inaceitavel
Desse monstro anelado
Que cheira a ouro
mas que não vale nada.

Ir embora assim, é
Como quem rasga as únicas palavras do papel
Como quem rasga dinheiro indo a motel
É como um aborto acidental
Houve o parto, ouve a parte
A gente se reparte,
Mas fica pra ver se vamos renascer.

Me Faltou Amor

Eu também me perdi,
Teve um tempo em que parei e reparei
Que não mais me reconheci.
Não era a fumaça,
Nem o teto cinza da cidade grande,
Não me faltaram vitaminas.
Me faltou amor desde o início...
Reclusei,
Me enganei, fiz questão de não ver,
O espaço, o abismo entre nós
Construi pontes, aviões
Fui de balão movido ao calor do coração.
E como o principe da história
Benevolente em suas descrições vívidas
E cheias de verdade,
Ocupei muito do seu Estado,
E você não enxergou o elefante dentro de mim.
Tudo estava certo, em seu lugar
Mas ainda estávamos grifados
Por vermelho, como se tivesse algo errado.
Configurações diferentes,
Linguagens difirentes.
Que seriam totalmente transpassadas... Se.
Talvez tivessemos enxergado todas as saídas...
Se quiséssemos mesmo sair.
Nos faltou ver
Que não há falta de espaço,
Somos nosso micro infinito campo de trabalho,
Somos o mundo fruto da nossa propria pesquisa
Mas pesquisa ai
Quando se tem tudo e procura entender o vazio,
É porque faltou amor,

e eu não falo do próprio.

Não passei por um ano em minha vida
Onde não fui ou me senti agredida
Mas 2017 teve apostas na saída
E quando ele assumiu como preterida
Fui surpreendida
Quantas dores, ossos esmagados
Escadas, assustadores homens, enormes
Mulheres baixas, de sórdidas
Pouco amor mas o suficiente
Fui esmagada por ônibus, por carros, por gente
Gente, fui esmagada por mim.

Uma Flor Amarela

Uma flor amarela,

Na selva de pedra...

Me lembrou o ouro dos teus cabelos.

Me deslumbrou,

E-feito teu, em mim, ficou.

O rio à frente,

O sonho concretizou...

Ao meio... das pernas, mar!

Forte corrente.

A mulher de mil faces,

A mim, instigava, com algumas frases...

E eu, virei homem de fases:

Não sabia do que se tratava,

Se tu era princesa ou quem eu enfrentava.

Nenhuma musa é eterna,

Mas todas são eternizadas...

O que me entristece,

É que tu é cheia de si,

E eu, com a certeza que de ti

Só o platônico.

Então são fios de ouro

Crescendo em ti,

Como flores amarelas.

São rios as pernas

E mar, ao meio delas.

É postura indefinida

Tão solúvel, quanto a vida.

De ti só o platônico.

Da-Vi-da, beijos só de despedida,

Na minha bochecha rosada que fica,

Com a dúvida:

Será que sou também uma alternativa?